personagens de animadores brasileiros

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Luiz Nazário


Uma equipe da Escola de Belas Artes da UFMG depois de quase três anos de pesquisas teóricas e práticas que contaram, entre outros, com o apoio da FAPEMIG, produziu uma trilogia de animação no estilo expressionista, trabalho que, em muitos aspectos, pode ser considerado pioneiro no Brasil. 


Os três curtas-metragens têm origem no projeto Animação Expressionista, voltado para a pesquisa desse estilo artístico na literatura e nas artes. Como lembra Luiz Nazario, coordenador do projeto e professor do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG, o objetivo final era produzir filmes de animação nos moldes expressionistas a partir dos estudos teóricos. 
Para isso, reuniu uma equipe de 18 pessoas, entre técnicos, desenhistas e estudantes de animação da graduação e pós-graduação da Escola.

A pesquisa teórica baseou-se, sobretudo, na leitura dos filósofos da Escola de Frankfurt, que surgiu na Alemanha nas primeiras décadas do século XX. De acordo com seus ensinamentos, os produtos da indústria audiovisual devem ser encarados não como obras de arte ou mero entretenimento, mas como peças de uma máquina que induz e sanciona comportamentos e estilos de vida. Livros e filmes também foram utilizados pela equipe para que todos, como A idéia era a realização de uma animação tradicional em stop motion, com bonecos ou desenhos em preto-e-branco, à maneira do cinema mudo. O primeiro argumento foi desenvolvido com base na estória de Pigmalião, o habilidoso escultor que cria uma estátua de mármore da mulher perfeita e acaba se apaixonando por ela. O mito grego foi logo descartado em prol de uma história original, inspirada em teses acadêmicas e reportagens de TV sobre transgenia e clonagem. Assim, a pesquisa passou a ser orientada, ao mesmo tempo, pela estética do cinema expressionista alemão e pelo desencanto com os novos rumos da ciência.


Segundo Nazario, A flor do caos, título do primeiro filme, é uma metáfora do descontrole. “O homem sempre buscou dominar a natureza, mas isso é impossível. Veja o caso da genética: para se chegar à ovelha Dolly, foi necessário criar e destruir várias aberrações. O tema da Trilogia do caos gira em torno das monstruosidades produzidas pelo homem em pesquisas financiadas por governos e empresas interessadas no controle tecnológico e industrial da vida.” Nesse sentido, a arte funciona, para o professor, como ponto de equilíbrio, pois fica a seu cargo injetar uma dose de medo nas pessoas a cada vez que a crença na ciência se mostra exagerada.
"Tentamos recriar na Escola uma experiência hollywoodiana", explica Nazario, com ironia. "Enquanto por volta de 1940 um filme era somente um filme, hoje, devido a estratégias de marketing, ele existe como parte de um pacote maior que inclui DVD, livro, CD, entre outros produtos". O terceiro filme da série, Dr. Cretinus retorna..., ainda se encontra em fase de produção, mas os outros dois curtas da trilogia já participaram de vários festivais e mostras, foram exibidos em programas de televisão e constam em vários catálogos e bancos de dados, incluindo o mais importante do mundo, o Internet Movie Data Base (www.imdb.com). Atualmente, o projeto Animação Expressionista funciona como um laboratório de iniciação científica para graduandos, especialização para graduados e experimentação para pós-graduandos.

Tendo a equipe assimilado o estilo desejado, as tarefas foram divididas de acordo com as preferências dos animadores. Enquanto um deles se ocupava dos personagens secundários, por exemplo, outro cuidava dos objetos e cenários e um terceiro compunha a fonte expressionista usada em legendas e créditos. As personagens principais da trilogia, inspiradas em figuras marcantes dos filmes de horror e ficção científica, ganharam forma definitiva pelas mãos do artista plástico Marco Anacleto. O trabalho conjunto com especialistas de diferentes áreas foi, em sua opinião, muito vantajoso para todos os envolvidos: “Além da troca de experiências, todos tiveram a chance de aprender uns com os outros, comenta.
Nessa primeira fase, foram de grande importância os recursos obtidos através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Secretaria Municipal de Cultura. Eles possibilitaram a finalização do primeiro curta, A flor do caos, realizado em Betacam (vídeo). O segundo filme, Selenita acusa!, foi produzido com a conquista do Prêmio Estímulo da Associação Curta Minas/Cemig na categoria Produção. O prêmio, aliás, colocou um novo desafio para a equipe, que precisou realizar o curta não só em Betacam, mas também em película 35 mm.

Como destaca Anacleto, a transferência da animação em computação gráfica para película ainda é uma novidade no país: “Durante nossa pesquisa, descobrimos algumas experiências parecidas no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas com filmes nos quais os protagonistas são pessoas de carne e osso. São pouquíssimas as animações que já sofreram datacinagem, a nossa está entre as primeiras”, conta. Após várias tentativas, o grupo conseguiu alcançar seu objetivo, tornando-se referência em produções semelhantes.

Em 2000, o projeto Produção Multimídia de Material Didático Integrado na Área de Imagem e Som foi aprovado pela FAPEMIG, possibilitando o crescimento do universo da Trilogia do caos. Além da aquisição de novos equipamentos, necessários à finalização dos vídeos, a equipe concebeu e produziu três trailers, três making ofs, o CD-Rom Expressionismo, trilha sonora, papelaria e o site ww.expressionismo.pro.br, que levou a um público mais amplo a pesquisa, as idéias e os bastidores da empreitada. Todos os produtos foram desenvolvidos com design semelhantes, de forma a garantir a identidade visual do projeto.

Filmes:
- Filoctetes 2006 
- Prisioneiros do Planeta Ornab! 2003 
- A Flor do Caos 2001 
- Selenita Acusa! 2001
A popularidade transformou o antes obscuro Dr. Cretinus numa estrela das mídias, e o poder subiu à cabeça do cientista. Trocando o laboratório pela política, ele se esqueceu de sua fiel assistente Selenita que, ferida em seu íntimo, vinga-se com método. Aventurando-se em novas experiências transgênicas, ela cria uma sensação que, industrializada pelo conglomerado de Mr. Maroto, conquista o mundo. Enriquecida, e usando artimanhas - clonagens ilegais, falsificação de provas - Selenita consegue levar Dr. Cretinus ao tribunal da ONU, fazendo com que ele perca a liberdade, mas não chega a saborear seu feito, pois seu brilhante produto revela-se nefasto, ameaçando a vida na Terra.
- Sexo Verdade 2000 

Nenhum comentário:

Postar um comentário