personagens de animadores brasileiros

domingo, 21 de agosto de 2011

Animação no Brasil - parte2

José Rubens Siqueira produz “PHM – Pequena História do Mundo”, uma panorâmica que narra a evolução de um macaco que se torna homem, atravessa os turbulentos anos 70 e resolve voltar a ser macaco - é seu filme mais premiado. Em “Estrela Dalva” Siqueira homenageia a cantora Dalva de Oliveira, cuja voz aparece na tela traduzida em um gráfico sonoro, por um negativo de som ótico de cinema.
Na década de 70, a Lei do Curta-Metragem provoca uma explosão na produção, apoiada na realização de congressos de cinema e festivais, e no incentivo da EMBRAFILME - que possuía uma linha de publicação de livros e revistas dedicada ao cinema, e promoveu o acordo Brasil-Canadá (1985), através do qual foi estabelecido o intercâmbio cultural e tecnológico entre o Brasil e o National Film Board do Canadá, e criados os Núcleos para a produção de animação.
Destaca-se o Núcleo de Animação de Campinas, que realiza oficinas pelo Cineduc (Cinema e Educação) e pela Edem (Escola Dinâmica de Ensino Moderno). Desde 1970 o Cineduc divulga e promove o cinema de animação, com oficinas para as crianças - onde foram realizados filmes como “Transformação Natural” (1989), “Amor e Compreensão” (1989) e“Cucaracha” (1991) – e, desde 1989, é responsável pelo Cinema Criança, evento bienal realizado no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. A Edem, do Rio de Janeiro, é pioneira na utilização pedagógica da animação.
Em 1979 surge Marcos Magalhães (então com 19 anos) com o curta “Mão-mãe”.  Em 1981, produz “Meow!”, vencedor do Prêmio Especial do Júri em Cannes em 1982 (o último filme brasileiro a participar da competição de curtas-metragens no Festival). O filme traz um gato esfomeado, que, sem leite, é convencido pela propaganda e pela pressão, a beber um refrigerante – a "Soda-Cólica". Uma bem humorada crítica à globalização, “Meow!” mostra uma grande cidade invadida por anúncios e pelo som do Plim Plim!, com simplicidade e uma lição de moral bem articulada.
O filme abre muitas portas, e Magalhães ganha uma bolsa de estudos patrocinada pela Embrafilme e pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior), indo estudar no National Film Board do Canadá, onde tem contato com Norman Mclaren. Durante sua estada no NFB, realiza “Animando”, uma união das diversas técnicas de animação – pixilation, animação tradicional, stop motion, recortes, tinta sobre vidro, areia, massinha, animação direta na película – numa exibição de controle do personagem, do ritmo e do tempo e de domínio técnico.
Em sua volta, após cinco meses no NFB, é responsável pelo Núcleo de Animação do acordo Brasil-Canadá (1985-87), o primeiro centro de formação profissional em animação no Brasil, que promove o primeiro curso de animação, com a participação dos canadenses Jean Thomas Bédard e Pierre Veilleux. Magalhães cruza o país à procura de artistas interessados no curso. A seguir, o acordo instala três núcleos regionais de animação: o NACE, em Fortaleza, dentro da Universidade Federal do Ceará; o do Rio Grande do Sul, dentro do Instituto Estadual de Cinema; e o de Minas Gerais, integrado no Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Em 1986, Magalhães apresenta “Tem Boi no Trilho”, e em 1993, com Léa Zagury, Aida Coelho e Cesar Coelho, cria o Festival Internacional de Animação Anima Mundi, que torna possível trazer ao país o que há de mais interessante na produção internacional. Em 1996 coordena o filme “Estrela de Oito Pontas”, animado por Fernando Diniz, morador do Hospital Psiquiátrico Pedro II há 50 anos. Por seis anos, Magalhães ajuda a realizar o filme que ganhou três prêmios no Festival de Gramado e o prêmio de melhor animação no Festival de Havana.
Como artista-visitante na University of Southern California em Los Angeles, Magalhães faz, em 2002, “Two-Dois”, animação que une o desenho sobre película ao 3D. É autor de outros curtas, como “Precipitação” (1991) e “Pai Francisco Entrou na Roda” (1997), e de trabalhos para a televisão, como o ratinho de massinha do Castelo Rá-Tim-Bum.
Dos Núcleos Regionais, destaca-se o baiano Francisco Liberato, que realiza o longa-metragem “Boi Aruá”, ao fim de uma filmografia que soma sete curtas, seguindo um estilo popular, baseado na xilogravura e na literatura de cordel.
Com a abertura promovida pelo Festival de Gramado e pelo Instituto Estadual do Rio Grande do Sul, surge Otto Guerra, animador de Porto Alegre, estreando com “Natal do burrinho”(1984), ganhador do prêmio de Melhor Curta Gaúcho no Festival de Gramado de 1984. Junto com Lancaster Motta, Otto realiza “Rocky & Hudson, os Caubóis Gays” (1994), e é autor de “As Cobras” (1985), “Treiler” (1986), “Reino Azul” (1989), “Novela” (1992) e “O Arraial” (1997).
Com o curta “Nave Mãe”, uma animação 3D apresentada no Anima Mundi 2005, ganhou os prêmios de Melhor Curta no Festival de Gramado de 2004, Melhor Curta de Animação TAM/2005 e o 3º Lugar do Júri Popular na Suíça, na Mostra Brasil Plural/2004. O filme conta a jornada de uma nave com dois tripulantes até se desgovernar pelo espaço. A nave em forma de galinha e o imediato atrapalhado e entediado (segundo Otto, um personagem autobiográfico) constroem uma atmosfera trágica e hilária. Atualmente Otto prepara-se para lançar seu segundo longa, “Woody e Stock – Sexo, Orégano e Rock and Roll”, inspirado nos personagens de Angeli.
Dentre os artistas mais representativos da atualidade, não se pode deixar de destacar Cao Hamburger, seguramente um dos nomes mais importantes da televisão brasileira. A ele se devem programas como Castelo Rá-Tim-Bum e vinhetas como Os Urbanóides, ambos produzidos para a TV Cultura. Em 1982 começou com os filmes em Super-8 “A Velhina” e “Bustop”. Em 1987 produziu sua animação mais famosa, “Frankestein Punk”, com colaboração de Eliana Fonseca.
   Diferentemente de artistas como Otto Guerra, que privilegiam a animação tradicional, Cao Hamburger trabalha com a animação de bonecos, tanto em seus curtas como nos trabalhos para a TV. Em 2000, realiza seu longa para o cinema, uma versão de Castelo Rá-Tim-Bum, em que o filme live-action convive com a animação de bonecos. Visto que a animação cinematográfica não tem o incentivo e a popularidade merecidos, seu feito reside em popularizar esta forma de arte através da televisão, revolucionando de forma criativa os programas educativos e de entretenimento.

Nos últimos anos, alguns filmes de grande importância estréiam nos cinemas:
“Cassiopéia”, de 1996, de Clóvis Vieira, inaugura uma nova fase no cinema de animação, como a primeira produção realizada inteiramente por computação gráfica. Com dificuldades técnicas, orçamentárias e de distribuição, o filme foi lançado após a estréia de “Toy Story”, apresentando, em relação a este, uma defasagem de qualidade gigantesca.
Após vinte anos de produção conturbada, “O Grilo Feliz” (2001), de Walbercy Ribas, foi lançado em pouquíssimos cinemas, permaneceu seis meses em cartaz e tornou-se um sucesso de público. Mas o longo tempo de realização deixou reflexos na descontinuidade da narrativa. Apesar disso, o filme sustenta um universo mágico que relembra os clássicos de Walt Disney.
E em 2004 é apresentado “Cine Gibi”, de José Márcio Nicolosi, um longa realizado a partir dos personagens das histórias de Maurício de Souza.
De qualquer modo, a animação nacional é mais expressiva em se tratando de curtas-metragens de produção mais barata, que possibilitam o exercício de criatividade.
Nessa área, tem-se uma numerosa produção de diversos artistas, dentre os quais destaca-se Allan Sieber, que começa sua história trabalhando com Otto Guerra, em Porto Alegre. São dele as aberturas do programa “Muvuca”, da Rede Globo, e dos filmes “Houve Uma Vez Dois Verões” e “O Homem que Copiava”, ambos de Jorge Furtado. É autor, ainda, de vinhetas da Rede Globo e de curtas famosos, com os quais foi premiado três vezes pelo HQ Mix, como “Deus é Pai”(1999), lançado no Festival de Gramado, “Os Idiotas Mesmo” (2000), “Negão Bolaoito Talk Show” (2000) e “Onde Andará Petrucio Felker” (2001). A promessa de seu próximo filme, “Pereio eu te odeio” - que contará com a participação do próprio Paulo César Pereio - deixa a expectativa de mais uma obra clássica da Toscographics, sua produtora.
Hoje, a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), através do estudo da professora Cláudia Bolshaw (PUC-RJ), tem levantado um histórico de animações realizadas no Brasil, mapeando as principais produções brasileiras em animação até os dias de hoje.




MORENO, Antônio. A Experiência Brasileira do Cinema de Animação, Artenova, 1978.

Um comentário:

  1. Sempre que prevalecer o espírito do peleguismo na animação veremos prosperar "textos" como esses! rs

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